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Desgaste desnecessário

Andei ficando bravo com quem não devia. Infelizmente é algo que se deve evitar, mas algumas vezes infelizmente escapa. Se eu tivesse parado por um segundo e checado com calma o que estava acontecendo não teria me desgastado sem necessidade. E este é o ponto que de fato importa: evitar desgastes desnecessários.

Infelizmente vivemos numa agitação absurda e não nos damos sequer mais tempo para parar, respirar e retomar o equilíbrio. Vamos empurrando tudo sem saber muito bem para onde e por que, o que por si só já é um desgaste idiota. Quando a situação aperta além do normal explodimos. Pior; é muito comum criar uma situação indesejada a partir do nada para funcionar como válvula de escape. É o cachorro correndo atrás do rabo.

Infelizmente no Brasil temos o hábito de responsabilizar automaticamente os outros pelas situações indesejadas ou problemas que nos cercam. Não faz parte da formação do brasileiro procurar entender quais as razões do outro. Temos uma tendência enorme à individualidade. Ainda nos é muito mais fácil dizer “você errou” do que assumir sua responsabilidade.

Entender o que está acontecendo resolve a situação com muito menos desgaste e mais acerto. Mas para entender tem que manter a neutralidade, que é um dos caminhos mais curtos para ter uma boa saúde e alcançar a felicidade.

Texto de auto-ajuda? Não estamos num site sobre bicicletas, ciclistas e afins? Estamos e o ponto acima tem absolutamente tudo a ver com saúde, bem estar e segurança no trânsito.

Voltando, fiquei bravo com quem não devia e depois do desgaste desnecessário em casa saí para a rua de bicicleta. Em casa até que a situação foi resolvida a contento porque você fala, ouve, pondera, etc... No meio do trânsito não há interlocução, não há conversa, não dá tempo, tudo é decidido em frações de segundo. No trânsito somos treinados a agir e reagir automaticamente para situações supostamente previsíveis, que deveriam correr nos conformes ás Leis e regras bem básicas.

Pois bem, bem vindo a vida real: VIVA A LEI DE MURPHI!

Fui fechado por um carro que veio de trás, pela minha esquerda, e entrou cortando minha frente à direita. Que novidade? Ciclista sendo fechado por um carro? Depois de meu grito como um milagre abriu-se a janela de vidros pretos e de lá saiu primeiro uma gesticulante mão, depois uma meia cara e aí caímos num bate boca estúpido. Ele esperneava o nome de minha querida mãe dizendo que estava com o pisca-pisca aceso. Minha argumentação foi que infelizmente (e felizmente) ainda não consigo enxergar o pelas costas. O erro foi dele sem dúvida, exatamente o mesmo de tantos motoristas.

Sou vítima neste incidente. A Lei, o Código Brasileiro de Trânsito, diz que sim, portanto o motorista está errado. Mais um ponto para mim, ciclista. Acaba aí a ponderação? Não há nenhum outro detalhe aí? Não tive nenhuma responsabilidade nesta história? Tecnicamente, dentro dos conformes da Lei e das regras, não, não tenho responsabilidade, sou vítima. MAS! se houvesse sinalizado haveria evitado a confusão? Pela Lei seria necessário? Não, mas teria evitado a confusão.

Michel Bogli, um dos melhores ciclistas da história do Brasil, um dia me ensinou que o simples ato de sinalizar faz muita diferença na reação dos motoristas, portanto na segurança do ciclista. É básico e funciona! Imagine só, se eu houvesse sinalizado – o que normalmente faço – não estaria sequer perdendo energia para escrever este texto.

Quem usa a bicicleta como modo de transporte (ou caminha) tem uma imensa vantagem sobre todos motorizados porque tem tempo para se equilibrar, respirar, acalmar-se, sentir, pensar. Tem uma vantagem maior ainda que é poder optar por caminhos agradáveis, pode passar longe dos locais de conflitos, ou ainda parar no exato momento que quiser em um canto tranqüilo. Tem a opção da liberdade. Liberdade! Ciclistas são mais saudáveis que motoristas. Então, qual é a vantagem de entrar em conflito no trânsito?

É uma opção de cada um de nós repensar o que estamos fazendo para procurar opções mais felizes. Ciclismo (o uso da bicicleta) é a arte da suavidade. Pedalar de maneira conflituosa é o caminho mais curto para o acidente. A maior parte dos acidentes é responsabilidade direta do ciclista.

Quando tiver passado por uma situação de conflito pare (literalmente) e pense. Será mesmo que a culpa é do outro? Será que levo alguma vantagem nesta situação? O que é melhor, esta estupidez ou ter paz e felicidade?

 
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